quarta-feira, 2 de julho de 2008

A Tuna Académica do Porto entre 1864 e 1909

Datam de 1864 as primeiras notícias de um agrupamento deste género no Porto.

Em 1890 a Tuna Académica do Porto, sob a direcção de Raul Laroze Rocha, apresenta-se em Salamanca e Madrid. Mais tarde, no Carnaval de 1897, realiza nova digressão a Espanha, apresentando-se em Santiago de Compostela, sob a regência de Carlos Quilez.

Em 1899, participa nas comemorações do primeiro centenário do nascimento de Almeida Garrett, sob direcção de Henrique Carneiro. Passado um ano, em Janeiro de 1900, a Tuna instala-se na rua dos fogueteiros e da regência encarregam-se, sucessivamente, os maestros Sousa Morais e Costa Carregal. Apresenta-se em Março, perante a Academia do Porto, e efectua vários recitais em Lisboa. Em 1902 visita a Galiza, onde mais tarde tornará, em 1909, já sob a direcção de Prazeres Rodrigues. Entretanto é criado a 6 de Março de 1912 o "Orpheon Académico do Porto". Em 1913 a regência passa para Marcos António da Silva

A 6 de Fevereiro de 1881 é interpretado pela 1ª vez o "Hino Académico do Porto" do Dr. Aires Borges. Em 1909 sob a direcção de Prazeres, desloca-se à Galiza - a que se reporta a foto acima, datada desse ano e dessa mesma digressão.

Em carta enviada ao O.U.P. a 10 de Julho de 1959, por José Dórdio Rebocho Paes e publicada no jornal do Orfeão seguem as seguintes palavras e sobre essa mesma digressão à Galiza:

" Em 1891 havia aí no Porto três grupos musicais. O mais importante era a Tuna Académica de que eu fazia parte. O seu reportório não era muito vasto e cantava a "Gioconda", "Entreacto de Carmen", " Serenata de Gounod", "Serenata de Bandolim", etc etc. Fizeram-se grandes excursões a Braga, Viana do Castelo, Aveiro e Ílhavo. Deram-se vários concertos no Teatro Principe Real [1] tendo colaborado num destes Guerra Junqueiro, recitando versos seus no Palácio de Cristal, em matinée.

...em 1890 fez-se uma excursão a Salamanca e Madrid, que foi acompanhada por vários estudantes adidos de Lisboa e Coimbra. Tocamvam-se os dois hinos, o português e o espanhol e dois ou três pasacalles. A Viagem foi triunfal principalmente em Salamanca, o Teatro Eslava foi entusiaticamente aplaudido. Em Madrid não fomos tão bem recebidos pois e dizia que iamos lá por motivos politicos. No entanto houve reunião no Anfiteatro da Faculdade de Medicina, onde se discursou com entusiasmo e no hotel onde nos instalamos fomos cumprimentados por Salmeron [2].

Visitamos todas as faculdades, o Museu do Prado e houve um beberete "en honor de los estudiantes portugueses". Foi-nos oferecido pelo Dr. Esquizinho, neurologista distinto, um almoço no seu manicómio em Carabanchel, próximo de Madrid, correndo entusiásticamente."

A. da Costa refere no Jornal Porto Académico no artigo "Dos tempos que já lá vão" e sobre a digressão de 1909:

" Marcado o dia da largada, na hora da partida lá estavam todos na Estação de São Bento com os instrumentos, a bandeira da Tuna tufada de fitas cujo colorido era um grito de alegria no meio das Capas Negras daquela embaixada de aventura e da mais ridente gaia Lusitana. A viagem foi farta em peripécias e anedotas cheias de graça. Quando atravessamos a fronteira mais nenhum de nós falou português e a língua de Cervantes era "esfaqueada" a propósito de tudo e de nada [3]. Quando chegamos a S. Tiago de Compostela toda a cidade académica estava à nossa espera na estação e as saudações redobravam de entusiasmo, a que nós correspondiamos com todo o calor e vibração da alma portuguesa que levava à Galiza amiga o abraço generoso da gente de Portugal.

A Tuna formou a custo sob a regência do Prazeres e ao som dos acordes do Hino Académico rompeu a marcha pelas calles de Compostela entre vivas, palmas e flores a caminho do Ayuntamiento para cumprimentos ao Alcaide. Durante o percurso, das janelas e das varandas, as flores caíam sobre a Tuna, abriam-se sorrisos em bocas frescas das mulheres de Espanha; cobriam.se olhares de curiosidade e de ternura que faziam vibrar, sob as nossas Capas Negras, as nossas almas juvenis."




[1] Actualmente Teatro Sá da Bandeira.

[2] Nicolás Salmerón Alonso foi Presidente da então Republica Espanhola, em 1873.

[3] Curioso como nada se altera hoje em dia e olhando para trás.

Fonte: Contracapa do CD "Um Percurso".

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